Na complexa realidade humana, os objectos, as circunstâncias e os acontecimentos, os factos, na sua relação com os homens, adquirem um significado diferente, uma realidade de natureza diversa: tornam-se bons e maus, agradáveis e desagradáveis, belos e feios.
Ao humanizar as coisas, o Homem cria e atribui-lhes valores. Recusando a passividade perante a realidade, assumindo as suas paixões, os mais inconfessados interesses, os sentimentos, tomamos posição perante o mundo e perante os outros: valorizamos, na impossibilidade de sermos neutros e objectivos, idealizamos a realidade bruta e fria. Criamos valores: recriamos o Homem.
É certo que não podemos quantificar os valores, porém podemos criar uma hierarquia de valores, individual e socialmente. Os indivíduos e as sociedades dão origem a escalas de valores que se baseiam sempre numa bipolaridade universal, ou seja, a cada valor positivo corresponde sempre uma valorização negativa, separando e opondo o bem e o mal, o justo e o injusto, o rico e o pobre.
Convém esclarecer que o valor que existe nas coisas não é o mesmo que o valor que estas adquirem na sua relação com o Homem. Um determinado objecto tem o valor próprio das suas características, do seu peso, da sua cor, do seu sabor. Porém, só adquire valor para nós quando se humaniza, ganhando propriedades que não existem no objecto em si. Adquire um valor humano quando para além de ser branco ou preto é igualmente belo ou feio. Dito de outra forma, o objecto ou as coisas, não valem o que valem, mas valem o que para o Homem valem.
Reconhecida a impossibilidade de sermos indiferentes ao que nos rodeia, evidenciada a necessidade de intervir e tomar partido, inevitavelmente introduzimos a nossa parcialidade na realidade. Valorizar é exactamente isso: tomar partido.
Daí a inevitável necessidade de confrontar valores, mesmo correndo o risco de colocar em causa a validade da nossa hierarquia de valores. Deste confronto positivo e do desafio que acarreta, no respeito pela diferença e pluralidade de valores, sairemos enriquecidos, mais capazes de melhor valorar. Utilizando os nossos critérios de preferência, a experiência adquirida e exercitando a razão, fundamentamos a distinção de superioridade de um determinado valor em uma determinada circunstância. Assumindo a responsabilidade das opções tomadas e aceitando como inevitável a influência (positiva e/ou negativa) dos critérios mais ou menos universais do social que nos envolve.
Aceitar a tarefa de pensar nesta influência do real e do social na nossa escala de valores é condição fundamental para irmos ao encontro da descoberta de valores universais: -onde quer que eles estejam!
domingo, 1 de março de 2009
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