Daqui vêem-se as margens do rio dispersando saliva nos rumores da Ribeira e do Cais, trocando luzes entre os lados opostos, prateando as águas supostamente d’ouro; daqui é aquela ponte arqueada por onde circula vida, dum lado para o outro, dos centros para os lados; daqui ouvem-se viaturas sonolentas, buzinas silenciosas quanto baste; daqui absorve-se o espaço, entre duas goladas de cerveja gelada, um naco de bolo, dois espasmos de fumo pigarreado. É uma daquelas noites iguais a tantas outras e por isso mesmo, daquelas que não se perdem; nesta doce calmaria recorda-se.
A memória lembra-se do Dia Mundial da Poesia – ainda se juntam as pessoas por causa disso!- que por acaso foi uma noite na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia. De memória sabemos que após entrarmos, à esquerda em frente à direita, sala 6: filas de cadeiras com gente, flores e telas pintadas de alguns dos presentes, uma mesa para receber com honra um grande poeta, Albano Martins. Escolha apropriada pela inquestionável grandeza da figura poética radicada em Gaia.
Ouvimos o poeta falar da poesia, de toda e da sua. Não cansou, aprendemos. Depois, as justas homenagens ao ilustre escritor tradutor poeta professor, lidas poesias e poemas, um violino. Quem fazia de árbitro disse: -Intervalo!
Já sabeis o caminho, regresso à entrada para um Porto de honra, de amena cavaqueira, reconhecimentos – ao tempo que certas pessoas não se reencontravam! - vai um biscoito, um sumo, um cálice, que vais ler a seguir? Sei lá!
À esquerda em frente à direita, sala 6: segunda parte, cantemos, recitemos, levantam-se uns, escondem-se outros, uns falam muito alto, outros muito baixo, alguns…não falam; acontece. Palmas, esperamos que para a poesia, sorrisos, surpresas, todas as sessões de poesia são assim; poucas ficam verdadeiramente na alma, muitas se perdem na prosa. Esta de que nos recordamos entre dois goles de cerveja apaixonados pelas margens do rio escorre suavemente, teima em resistir: é a homenagem que Albano Martins merece.
Haverá quem se tenha contentado com um abraço do poeta; existem ainda os que abraçaram a poesia do ilustre convidado. Esses, apenas esses, estiveram verdadeiramente lá e por isso mesmo conseguirão compreender esta ponte este rio estas margens que se avistam…daqui.
Luís Nogueira
11/4/2009
sábado, 18 de abril de 2009
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